ETC.
O COMETINHA COLORIDO EM SUAS
BEM-AVENTURANÇAS PELO COSMO *****

Dedicado a todos os filhos e filhas do Calvário
e às crianças da CIFRATER.


Não era noite nem dia.
Era o espaço com seus mistérios, seus universos, suas estórias e surpresas.
Estamos há muitos e muitos séculos atrás.
E, foi aí que tudo começou...

Cada planeta em sua órbita. Um grande e amarelo astro no centro do sistema amparando todos eles, fornecendo luz, alimento e outras energias e... de repente!


Lá no longe aparece uma luzinha diferente, que não seguia um rumo certo. Parava aqui, parava ali, virava ali, voltava acolá e dava mil voltas. E isso deixou o astro-rei intrigado. Ela foi chegando mais perto, foi chegando e finalmente foi reconhecida.
Era um cometinha colorido. Não era o único de sua espécie, entretanto era muito raro de se avistar um. Somente surgia, pelo menos por ali, de milênios em milênios...

Ele era muito interessante. Possuía uma linda cauda com as cores do arco-íris e, ao contrário do que se dizia dos cometas por aquelas paragens, este não trazia más notícias, nem era azarento. Muito pelo contrário, só trazia sorte e boas notícias.

O astro-rei sentiu-se satisfeito e, abrindo mais seu leque de raios luminosos, como que dando as boas vindas ao caminheiro do espaço, perguntou:



_ Olá, companheiro! De onde vem você, tão colorido e alegre?

O viajante celeste virou-se um pouquinho... coçou uma pontinha de sua cabeça... olhou para o grande astro e sentiu uma outra “coceirinha” lá no seu coração.
Por um instante pensou que já conhecia aquele ser tão brilhante. E, ao perceber isso, suas cores se tornaram mais intensas. Mas, foi passageiro. Abanou-se todo, fez um “Ufa!” e disse:

_ Puxa! Acabo de passar por um campo de asteróides. E, o pior, era que caía uma tempestade cósmica! Mas estou inteirinho, ainda bem.

Venho lá das bandas da Estrela Pintor que me deu uns retoques na cauda. Nós, que viajamos muito, precisamos nos cuidar para agüentar tantas radiações e tempestades.

O gigante amarelo inclinou-se um pouco para alisar uma mancha aparecida em seu corpo imenso e, comentou.

_ É mesmo... Na última tempestade ocorrida por aqui consegui um resfriamento, mas isso também passa logo...

E deu uma volta sobre si mesmo. Até parecia estar despistando algo. A verdade é que, com a aproximação do cometinha, ele ficara ligeiramente ruborizado. Mas não foi por vergonha ou tristeza. Foi quase por surpresa. Não o esperava assim, tão cedo. E, logo, logo a surpresa transformou-se em ... ... esperança.
Era a “palavra” , o sentimento mais certo.

Por um instante relembrou toda a sua existência, o seu trabalho de vigilante e guardador de planetas. Ele era como que pastor de todos eles. Percorreu com seu olhar amoroso todos os seus domínios celestes e, pousando um raio mais quentinho no cometa falou, cheio de ternura.







_ Que faz você?

A estrelinha-viajante pestanejou um pouco e respondeu.

_ Vou aprendendo e ajudando na alegria, na esperança, no perdão, na solidariedade etc. Passo pelos mundos. Uns novos, alguns velhos, ricos e pobres, fazendo isso ou aquilo. O que mais se vê por aí é que aqueles que sabem mais e são mais velhos, ajudam os que são mais novos e sabem menos. A primeira Lei do Universo todo mundo sabe: amar nosso Pai Celestial...

O guardião planetário estava mais bonito. Ajeitou-se todo e disse, bem baixinho.

_ Espera um pouco... Fica aqui, bem junto a mim. Vamos nascer para aquele planetinha... ... pense em algo lindo para enviarmos para ele...

_ Ah! ...penso em como aqui está gostoso... ... tão quentinho... Aqui é, agora, o melhor lugar do Universo... Vamos mandar este sentimento a ele.

_ Isso, vamos... vamos nascer no Planeta-Amor. Em Vênus é um novo dia no continente do coração...

...

E, no enlevo daquele instante, continuou sua conversa.

_ ... Mas, dizíamos do nosso Pai Celestial. Que bom você ser assim, tão prestativo. Nessas andanças, você não tem medo? O infinito tem muitas coisas que a gente desconhece...

_Eu, medo? ... Não! Quero dizer, só um pouquinho...
Quando fazemos algo que nos parece certo estamos bem protegidos pelo Zelador da Vida. Ele está sempre conosco e, quando me desvio um pouco da rota, Ele me adverte de algum modo. Temos de ficar espertos para poder compreender Seus Sinais. E, por onde vou encontro abrigo e amizade. Posso me alimentar com facilidade. Meu alimento é a saudade - riu gostosamente - e, além do mais, posso beber à vontade na Via Láctea.






E o nosso grande astro dava "corda" à conversa.

_ No espaço também existe inimizade, inveja, e quando chegam as tempestades de asteróides...

_ Aí, conta mais o que já aprendemos. Desses encontros, destes atritos, saímos um pouco machucados. Mas eles cicatrizam-se rapidamente. E, então, estamos prontos para outras "aventuranças". Mas também, quando gostamos mesmo de uma coisa ela se torna mais fácil. A alegria nos dá mais força, disposição, coragem etc.

O rei daqueles sítios ouvia atentamente. E continuava o diálogo.

_ Você já conhece as zonas primitivas?

_ Sim. Foi em uma dessas zonas que iniciei minha jornada. Foi uma etapa difícil. Às vezes ia até em um de seus mundos habitados. Só que me era extremamente penoso o contato com sua aura poluída e desequilibrada. O magnetismo ali é muito “pegajoso".

Então, o cometinha torceu um pouco seu nariz estelar e suspirou, dizendo logo em seguida:



_ É... mas só estudo nessas viagens. A ajuda de que te falei é bem pouca. Por causa de minha cauda, que uns dizem ser cabeleira, as pessoas ficam mais alegres. Eu fico só um pouquinho no céu e... é dessa forma que eu ajudo...

A expectativa do astro-rei terminara. Agora, estava era admirado com o progresso que aquela estrelinha-errante conseguira. Lembrava, como se fosse hoje, do dia em que vira sair da mesma nebulosa-mãe onde haviam nascido aquele cometinha-menino. Ambos saíram para a imensidão sideral em busca de experiências, em busca de seus próprios mundos. Via que tudo estava se encaixando, naturalmente...

Irradiou agradecimentos ao Pai Celestial e... algo extraordinário ocorreu nos céus...
Ele fechou seus olhos e o cometinha pôde notar que escorriam pequenas centelhas deles. Eram lágrimas brilhantes escorregando pelo espaço...



O sol chorou...

Suas lágrimas eram lindas estrelas... muitas estrelas... especialmente quatro delas se destacavam, magníficas. E, deslizando lentamente pelo céu, foram formando uma constelação. Ela se parecia com um sinal positivo, uma roda brilhando no firmamento. E, aquele conjunto gracioso foi tomando o rumo ao sul de onde estavam... e as quatro maiores brilhavam como a dizer que aquela lágrimas eram a Renúncia, a Humildade, Sacrifício e Amor que abrigariam a todos que passassem por aquele monte celeste...

Nosso cometinha olhava aquilo entre atônito e interrogativo. Estava tão apaixonado pelo jeito manso daquele gigante de energia, que não entendia direito aquilo que se passava. No entanto, sentia que algo de muito importante e bonito estava acontecendo.

E, cortando o augusto silêncio que se fizera, o cometinha falou tímido, humilde e sincero:

_ Eu gosto muito de você...

Então, foi-se aproximando mais um pouco do novo amigo e perguntou a si mesmo se já não conhecia de algum lugar aquele ser tão bonito. Pensava, pensava, mas não sabia definir quando o encontrara alguma vez, no passado. E, sem perceber, começou a "pensar alto":

_ Sou um cometinha apenas... não muito grande. Uma vez me ensinaram que nascemos para brilhar nos caminhos preparados pela Divina Providência. E, que nestes caminhos devemos ser prestativos aos que encontrarmos. E, esse amigo é assim... Aqui a seu lado, no seu calor encontro energias que me alimentam e fortificam... Gostaria de ficar aqui... de estar em algum lugar onde estivesse sempre em segurança. Só de vez em quando, só um pouquinho, é que tenho medo da imensidão... das tempestades, dos dragões escondidos nas crateras dos asteróides... Porém, há algo mais forte que me impulsiona e guia para estar aqui e ali, aprendendo isso, ajudando naquilo. Será que minha estrada nunca terá fim?...



E olhava as redondezas... suspirando... conversando consigo mesmo... quase aflito.

O rei de luz, vendo que aquelas indagações torturavam de certo modo o jovem cometinha, desviou delicadamente o rumo de seus pensamentos, dizendo:

_ Ainda bem que você pode cintilar no céu para as pessoas...

Daí, o cometinha virou-se para o grande astro luminoso e perguntou se por ali não precisavam de cores. Ele poderia pintar alguma coisa com sua cauda, ou dar uma ajuda no que fosse preciso.

_ É claro! - disse o astro satisfeito - Onde há disposição para o trabalho existe serviço para o bem e a harmonia das criaturas. Onde quer que estejamos, se estivermos com boa-vontade, há possibilidade de ajudar.

Aquelas palavras deram ânimo novo ao pequeno caminheiro sideral. E, o amigão continuou.

_ Aqui mesmo, no meu reino, está sendo preparado um planeta-escola que será berço de criaturas ainda fracas nas matérias da Paz e Boa-vontade. Este planeta abrigará nos próximos milênios estes irmãos. Seus próprios habitantes é que prosseguirão no aperfeiçoamento das obras lá iniciadas e, tenho certeza de que você será muito útil nos planos já desenvolvidos.

_ Hummmmmmm... quem sabe posso ajudar na coragem, na simplicidade, na calma, na paciência, na amizade, na união, na fidelidade etc.

_ Ótimo! Excelente!... Olhe! É bem por ali, além das fronteiras do Planeta-Amor. Você não pode errar. O novo planeta é bem redondinho, azul, muito azul e, neste instante uma Irmã nossa está lhe fornecendo certas energias de que ele precisa. Ela, também, permanecerá por lá, iluminando as noites através dos meus raios que nela se refletirão, abençoando as escuridões da humanidade nascente. Os homens, para crescerem na liberdade ainda necessitam do dia e da noite, e preferiram saborear os frutos do conhecimento do bem e do mal pra se acreditarem fortes e se tornarem guardiães de sua própria Alma, de sua vida. Este planeta se chamará Terra, porque lá encontrarão campo favorável para desenvolver seus dons...

_É... acho que já vou indo. Foi muito bom te encontrar, amigo, ou reencontrar, sei lá! Espero que em breve nos vejamos novamente. E... ah! ... já ia me esquecendo....

Todos me chamam de Etc. por uma mania que tenho de falar demais e querer resumir tudo num só sentimento: a Paz. E o seu nome, qual é? Como te conhecerei, para que sempre possa te lembrar na imensidão?

Eles se olharam bem dentro um do outro e se encontraram na luz do início de suas eternidades... e o astro-rei disse, só isso, docemente entre carinhos de luz:

_ Eu Sou o seu Irmão Sol...

Os dois se abraçaram entre labaredas saudosas e Etc. partiu tão somente com seu ideal.



Não... o Irmão Sol lhe seguia com o pensamento...

_ Sim... já nos conhecemos lá dos ninhos estelares, irmãozinho. Você era tão pequenino, uma centelha, divina centelha... e meu Amor te impulsionou a colorir o espaço. Herdeiro-irmão das galáxias, falta pouco para você se fixar no seu próprio reino-missão. Sua última prova será depois, quando lá no longe dos tempos, neste planeta que agora vai nascer, houver necessidade de eu me apagar para que a Alma dos homens brilhe em toda sua plenitude, compreendendo e vivendo a realidade do Amor. Você irá anunciar a minha chegada, na glória de Deus, lá das alturas, entre os braços do meu devotamento, para a redenção da humanidade em busca da Paz, pela Boa-vontade... e, depois, mais tempo depois, quando Eu ali retornar na forma visível de Luz no Coração deles, você retornará comigo. Enquanto isso, vai... segue... vai colorir o mundo com a sua alegria... meu Irmão... meu amado Amigo Etc.

E o nosso amiguinho-estrela seguiu pelo espaço profundo rumo à Terra recém-nascida.
Estava quase chegando ao Planeta Azul quando pôde ver a Irmã que o Sol lhe falara.
O Cometinha ficou extasiado... algo indefinível percorreu todo o seu corpinho de estrela ao sentir as vibrações daquele ser de que ele se aproximava.

_ Seja bem-vindo, amigo! Sou a Irmã Lua. Você vem lá dos lados do Irmão Sol, não é?

Ela já sabia da sua chegada. O Sol lhe havia mandado sinais luminosos dizendo do cometinha-ajudante.
... O Cometinha estava boquiaberto, mudo... E, aventurou meigamente a Lua...

_ Trouxe alguma boa notícia?

E, com Etc. nada respondia, para não deixá-lo meio sem jeito, ela se fez minguante e, num segundo transformou-se em nova, apagando-se toda, momentaneamente, como que para quebrar o encanto em que ficara nosso lindo cometinha.

A Lua reapareceu e perguntou novamente se ele lhe trazia uma boa-nova.
Aquela impressão foi passando lentamente, devagarinho e, Etc. conseguiu balbuciar algo.

_ É... é... é... hum... hum...

Seus olhinhos de estrela-menino brilharam mil constelações e ele, enfim, pôde sussurrar.

_ Sim, não! ... É... quero dizer... vim para ajudar no que for preciso _ e sorriu como somente as Crianças de Luz sabem sorrir.

_ Ah! Que bom, amiguinho. Você chegou na hora certa. Estamos preparando o solo do planeta para receber as sementes da bondade, da ciência, da saúde, da harmonia, do progresso e sabedoria, da fraternidade, da paz etc.

_ Como você sabe o meu nome? _ admirou-se o cometinha _ Você adivinha as coisas? É muito raro alguém ter esse nome...

A Lua desenhou um quarto crescente no céu como um sorriso, por essa peça pregada no cometinha. Ela sorria de como aquela carinha passara de tão linda a tão assustada... e, esclarecendo a dúvida de Etc. disse cheia de ternura.

_ Não, querido... o Sol mandou-me o seu nome junto com os raios da aurora de hoje... e, o dia está tão lindo...
Quem sabe você não vai pincelar todo este mundo com as cores de seu coração alegre e generoso? Seria uma ajuda aos espíritos-estudantes que esperam aqui as sementes de uma nova vida...

Etc. arregalou-se com a sugestão.

_ Posso? Oba! Vou passear aqui no céu para brincar de arco-íris. Adoro fazer isso...

Uma vez, foi há muito tempo, eu era criancinha ainda e aprendia a fazer órbitas. Havia um professor-estrelão, que não me lembro o nome agora, um grande artista. Ensinava que podemos dar nova vida às coisas dando um toque de Luz, junto com muito Amor. Dizia que não era muito difícil mas, que exigia muito desprendimento de quem o fizesse. Ele era muito bom. Nunca mais o vi. Ele fazia maravilhas com a sua poderosa vontade. Fiquei sabendo, também, que ele fora o comandante e o engenheiro-chefe na construção de um planeta feliz onde tudo brilhava. Ele usara cores que ainda hoje desconheço. Neste planeta, me disseram, tudo “SOLtava” Luz... Será que na Terra será assim?...

_ Quem sabe? _ disse a Lua toda enigmática. Quem sabe ele não aparece por aqui e te dá uma ajuda?...

E a Lua escutava, transbordante de alegria e lucidez, o cometinha colorido... Em dado momento ela, qual mãe desvelada, fixou o planeta. Este, recebia suas energias e girava lentamente, como uma criancinha entre as fraldas do éter esbranquiçado da madrugada... Ela, então voltou-se para Etc. e disse melancólica.



_ Espero que seus novos habitantes, dessa vez, aproveitem o tempo cuidando e desenvolvendo estas sementes. Depois de muito trabalho e esforço, colherão o fruto precioso da paz em si mesmos. Estarei com eles... e sob o meu manto de luz embalarei seus sonhos, inspirando os corações a se amarem e ajudarem mutuamente.

Etc. estava encantado com a beleza da cena. A atração magnética exercida por ela sobre o planeta Terra fazia este pulsar suavemente, num movimento de ondas ininterruptas, calmas... como uma canção de ninar...

Dali o cometinha podia ver o Irmão Sol lhe acenando, lá de longe. Meditava na beleza daqueles dois seres que conhecera.... tão sem querer...
Pensava em como eram atenciosos no cuidado para com a Terra, como se fossem seus pais. E, eles estariam ali por muitos milênios... vigilantes ao progresso dos que ali viveriam...

Etc. vibrava por eles. E, como era um "trazedor-levador" de sorte, pensava no que iria fazer para que, um dia, saboreando o fruto da evolução, os homens pudessem conhecer de perto o carinho daqueles dois astros tão amáveis. E, por muito tempo ficou assim, planejando, se reforçando junto à Irmã Lua que lhe enchia o corpinho com suas vibrações de serenidade e calma.

_ Pronto! O solo terrestre já pode receber as sementes de Luz...

_ E, eu já estou indo! _ gritou alegremente o cometinha.

_ Sim, sim, meu amiguinho... vá repartir com os homens a sua Alegria, Etc.

Dizendo isso, aproximou-se ele, dando-lhe um beijo na pontinha de sua cabeça. Daí, o cometinha saiu chispando cores, lampejando sua cauda, sobrevoando rios e mares, montanhas e vales, procurando um meio de ser útil.




Etc. estava admirado com a perfeição do lugar. Cada coisa com sua finalidade, no local exato. Cada criatura no lugar certo. A paisagem, os campos preparados para a fertilização... Tudo ordenado, Simplesmente. O cenário era maravilhoso, a atmosfera era puríssima, pontilhada de nuvens brancas e graciosas. O mar espelhava a tranqüilidade do firmamento numa tonalidade azul, toda azul, de intraduzível e inesquecível beleza...

Tudo se harmonizava em composições suaves, simples, adequadas para o bem-estar dos homens. Cada ser emanava de si próprio uma onda de Amor e Esperança...
E ele continuava a olhar embevecido, cheio e contentamento, pensando mil proezas, desejando expressar sua colaboração de algum modo. De repente, arqueou as sobrancelhas...

Percebeu que o solo, as pedras, em quase sua totalidade eram escuras, próprias para o cultivo de alimentos. Olhou para sua cauda... tornou a mirar o chão e, enchendo-se de alegria tornou-se tão claro e brilhante que mal se podia distinguí-lo naquele turbilhão de luzes...
Ele teve um pensamento, uma esplêndida idéia... pensou no alimento espiritual, nas vibrações coloridas que davam vida nova às coisas... Porém, ficou em dúvida.

_ Será que poderia fazer isso? _ ponderou...

Ficou meio entristecido e cabisbaixo e, engraçado, viu que ao seu redor tudo tomava uma cor diferente. A paisagem foi ficando meio escurecida...

_ Eu sabia... _ disse um pouco chateado. _ Eu Sou ainda muito pequenino para fazer uma coisa dessa. Até a natureza se entristeceu também. Acho que ela viu que eu não dou conta...

Dizendo isso, olhou para o céu e pôde ver que algumas estrelas brilhavam, piscando seus olhos para ele, sorrindo... Então, tudo se explicou....
Era um eclipse! O Irmão Sol e a Irmã Lua se encontravam bem pertinhos um do outro e, lá de cima incentivavam Etc. a trabalhar no pensamento que tivera.

_ Coragem, Irmãozinho... Tudo é possível para quem ama de verdade. Nós te ajudaremos. Que a criação possa viver, palpitante de luz ao toque de seu alegre Amor...

O cometinha vibrava de satisfação. Aquela seria uma prova bem difícil, uma tarefa bem grande. Todavia, estava disposto a conseguir. Tanto o Irmão Sol quanto a Irmã Lua lhe transmitiam a coragem e a força de que necessitaria para empreender tal tarefa.

Aí, fechou os olhinhos e começou a se levantar no espaço. Deu uma última abanada em sua cauda, ajeitou um grande e largo sorriso e, sem pestanejar, deslizou pelos ares, correndo a Terra em todas as direções.



À medida que ganhava velocidade, a bela cauda se desfazia em milhões, bilhões, trilhões de pontos luminosos a cair sobre a terra boa.... Era como se uma chuva de estrelas multicores pingasse suavemente pelo imenso planeta.
Acontecia o milagre... o globo se iluminava ante o pensamento bondoso e desprendido do cometinha "pé-quente".

_ Viva! _ gritava alegremente. _ Vou colorir muitas pedras... este será meu presente às gerações do porvir... Muitas pedras coloridas para embelezar e trazer aos homens a lembrança do dever sublime a cumprir. Elas lhes trarão aos estudos e lições do caminho a vontade e energia para o trabalho... a honestidade... a responsabilidade,,, a beneficência... a amizade... a ternura... o carinho.... a paz... etc.

E continuava a sua bem-aventurança...

_ Estas serão azuis e lhes lembrarão a cor do céu, a pureza do ar que lhes manterá a vida e permitirá o progresso...

As verdes trarão recordações destes campos, destas florestas, das flores, frutos e ervas que fornecerão o pão de cada dia...

Vermelhas... levarão ao espírito, pelas vias internas, que todos os homens são iguais perante o Criador...

Essas? Violetas... trarão à mente as idéias superiores da fé, esperança e caridade...

Alaranjadas que ensinarão o calor fraterno, a brandura nas relações, o perigo do frio da indiferença e egoísmo.

Algumas brancas, bem transparentes até, sintetizando o poder de todas elas. Serão tão puras e imaculadas como deverá ser a consciência de cada um...

Com estas, construirão os utensílios necessários à vida. E, com elas farão inúmeras combinações a fim da paz, da segurança, da tranqüilidade entre eles e os povos do universo.

No futuro, quando estiver quase se formando, o homem achará estas. Serão um pouco diferentes! Emanarão de si, mais poderosamente, minúsculas partículas de energias capazes de movimentar as montanhas daqui para acolá. Com a fé orientada, então descobrirá que ele mesmo poderá despregar de si luzes e energias que lhe permitirão viajar e conhecer todos os espaços e universos. Ele chegará a outras dimensões...

A maior parte deixarei assim mesmo, para que possam cultivar a terra e tirar dela o sustento necessário. E, também, para que brote o alimento para as demais criaturas que lhe compartilharão as experiências. E para que se lembrem constantemente do Amor ao próximo, da dedicação, farei estas... especialmente coloridas, cintilantes... Elas refletirão as energias que nos chegam incessantemente destes dois irmãos tão queridos... Sol e Lua...

Cada criatura merecerá o seu quinhão. Todos se beneficiarão delas, no corpo e no espírito... E, eu chamarei estas “pedras” de ouro e prata... Refletirão a Amor e a Sabedoria da Lua e do Sol...

Etc. passou um bom tempo na sua tarefa. O espetáculo causado por seu ato de doação e Amor também fora magnífico. As forças concentradas sobre o planeta, naquele instante, eram imensas e poderosas... O céu inteiro se regozijava naquele eclipse que a tudo iluminava. A galáxia inteira cantava uma única canção de boas-vindas, de paz... E, a travessura de Etc. chegara ao fim...

O cometinha estava muito cansado e, no entanto, nunca estivera tão feliz... honrado por haver contribuído naquele empreendimento. Quase toda a sua cauda havia se desmanchado no atrito com a atmosfera, mas ele não havia percebido isso.



Assim, meio zonzo com aquelas peripécias todas, foi subindo até onde se encontravam os dois amigos. Estes envolveram o pequeno e grande trabalhador num halo de carinho e permaneceram, daquele modo, na contemplação um do outro por algum tempo...

...Eles se amavam... e eram um só foco de luz a iluminar o planeta que nascia para abrigar tanto amor também...

Então, o Irmão Sol ficou mais sério e compenetrado, virou-se para o norte e disse, mirando as profundezas do espaço.

_ Cocheiro! A hora é chegada! Traga da Morada da Capela os habitantes deste novo reino!

E, lá de longe, foi-se desenhando uma esteira luminosa, tal qual sua cauda, toda colorida, trazendo uma verdadeira multidão de espíritos...

... Silêncio...

E, quando a grande comunidade se ajuntou nas redondezas foi-lhes mostrado o novo lar, a bendita escola que doravante lhes abrigaria a esperança...
Etc. a tudo assistia, respeitoso. E, todos viam o Planeta Terra, como se fosse uma jóia de incalculável valor flutuando no grande mar espacial... brilhando delicadamente... atingindo em cheio cada um que estava ali.

E, o Irmão Sol os acariciou com os seus raios, dizendo.

_ Sigam, meus amigos, permaneçam no meu amor... pois meu amor é aquele que O Pai ensina. Recomecem a tarefa e que a minha alegria esteja com vocês, todos os dias, em plenitude...
Amem-se uns aos outros, como O Pai nos ama... E, o Amor maior é aquele que se oferece pelo bem do próximo.

Ao dizer isso, voltou seus olhos para o cometinha. Etc. não podia se conter e, chorava mansamente, muito comovido por participar daqueles momentos. Ele que era tão pequenino, tão insignificante, tão estrelinha ainda...

Sentiu, então, que suas forças iam se recompondo e, a um sorriso amoroso do Sol estremeceu todo, de leve...
Sua cauda foi restituída mais bela... ainda mais luminosa... e, só aí é que notou que ela havia se desgastado antes e que estava, agora, novinho em folha, para outras tantas “bem-aventuranças”...

_ Obrigado... acho que agora tenho de ir... _ disse num sussurro...

_ Sim, amiguinho... nós também te agradecemos a ajuda... Quem dá de si sempre recebe. Vá em busca de minhas lágrimas, lá naquele Cruzeiro, onde você encontrará novas experiências e crescimento. No futuro, espero te receber para outra iluminação... Siga em Paz...

A Irmão Lua lhe presenteara o sorriso mais claro e puro que jamais havia visto, junto com as seguintes palavras...

_ Querido amigo... eu também te reencontrarei no meio de todas as noites, quando o céu se encontrar com a Terra marcando o nascimento de um novo tempo de Paz para todos os homens de boa-vontade... Obrigado por você ter se alegrado aqui conosco...

E, num suspiro profundo de infinita saudade, Etc. deixou brotar uma lágrima radiantemente bela que escorregou até a montanha mais alta do mundo... E, secretamente abençoou aquela semente, querendo que se chamasse “pedra filosofal” e que com ela, o homem que houvesse conhecido todos os jardins, suas flores e suas árvores, pudesse talhar o cálice de todas as afeições, beber o amor universal e distribuir esta dádiva á todas as criaturas, suas irmãs, em profunda e indestrutível comunhão.... ... sem saudades...
E, com a disposição de aprender-ensinar de sempre, despediu-se de todos, tomando o rumo das estrelas da Vela Celeste. No caminho, encontraria o seu destino: as quatro estrelas em forma de cruz, no céu...

... Foi-se afastando cada vez mais, deixando atrás de si mais uma outra saudade...

Ele foi sumindo, sumindo... se distanciando cada vez mais, com uma certeza! Um dia ele voltaria... e desta vez, quem sabe, trazendo uma importante mensagem, aquele canto novo que inspirasse a humanidade o encontro definitivo consigo mesmo, à harmonia... trazendo a boa-nova...

Ao seu redor os planetas, sóis, milhares de galáxias entoando a uma só voz a Divina Sinfonia da Vida, na pauta da eternidade...


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Em breve disponível impresso no formato de livreto.
Estória escrita em 1984, na Cidade da Fraternidade,
Alto Paraíso de Goiás.