O PINTINHO QUE FRANCISCAVA
Um pequeno canto de Natal*


Dedicado a Francisco de Assis
que reviveu o Presépio
para nos lembrar do nascimento
e da vida Dele...


Era uma vez uma cidade bem pequenina
num lugar muito distante.

E, num galinheiro bem escondido entre aquelas poucas casas, nasceu uma ninhada de pintinhos naquela manhã calorenta.
Mas, restava um ovo para quebrar e só pela tardezinha ele se abriu, e aquele pintinho nasceu para o mundo.
Era mirradinho e pequeno.

No outro dia a galinha saiu toda satisfeita com sua ninhada e, pela primeira vez seus filhotinhos
foram conhecer aquele lugar onde nasceram.
Havia muitos outros animais vivendo por ali,
muitas flores bonitas e todos passaram o dia inteiro
ciscando o chão em busca de alimento.

O pintinho mais novo se admirava de tudo o que via e ouvia. Ciscava aqui e ali, piava alegre ao descobrir uma pedrinha bonita, se enfiava por entre as flores espalhadas,
entrava em todos os lugares e se encantava de tantas coisas para se aventurar em brincadeiras.
Seus irmãos pintinhos só queriam saber de comer ou ficar debaixo das asas da mãe-galinha, e mais nada.

Num belo dia ele tomava um gole de água na vasilha perto do ninho e viu uma pequena fenda na cerca.
Colocou a cabecinha para fora e pôde ver uma vastidão sem fim, piscando os olhinhos e soltando piados de admiração.
Ele pensou em sair por ali, imediatamente,
mas deixou para fazer isso depois de perguntar aos outros
do galinheiro o que havia lá.

Na manhã seguinte o cocoricar ao seu redor indicava que alguma coisa diferente teria acontecido.
Havia um certo temor no piar de todos.
Era o dono daquele lugar que fora buscar alguns ovos
e saíra com uma das galinhas mais gordas.
Todos sabiam que nunca mais a veriam por ali,
mas não sabiam o porquê.

Então, todo sorridente e animado,
saiu a perguntar sobre o que existia do lado de fora daquele galinheiro, e ninguém sabia afirmar nada.
Apenas diziam que ali havia alimento farto,
e todos os que foram levados ou saíram de lá
nunca mais voltaram para dar notícias.
Era só.

Sua vontade em conhecer era grande e como não recebia respostas, uma vez se aventurou por aquele buraco.
Sentia um pouco de receio, mas estava muito excitado pela possibilidade de descobrir o que existia naquele outro lugar.
Respirou fundo, olhou mais uma vez
e deu o primeiro passo em direção ao desconhecido.

Ah... ele não havia de se arrepender.
Descobriu árvores imensas que davam frutos gostosos que saiu bicando pelo chão, um pequeno riacho de águas claras,
e outros animaizinhos que não via pelo galinheiro:
grilos, minhocas e formigas, sapos, vacas e bezerros,
ovelhas e um burrinho, cabras e patos.
Conheceu abelhas, borboletas e passarinhos que voavam sobre o galinheiro onde morava, e descobriu que eles não pousavam por lá porque do lado de fora havia muitos outros lugares misteriosos e lindos para descobrir a cada dia. Descobriu até que em outros lugares havia galinheiros parecidos com o que morava.
E, com cada amigo novo ia aprendendo
a canção da natureza em suas formas tão diferentes.

A cada dia voltava para o ninho querendo contar das novidades e levava uma bicada de repreensão
de cada um de seus irmãozinhos.
Nenhum deles queria saber de suas peripécias,
dizendo que se ali havia alimento o bastante e a segurança da cerca, para que sairiam para procurar comida lá fora.
Sempre repetiam a mesma coisa.
Naquele galinheiro sempre se sentia sozinho e até mesmo desprezado pelos demais.
E matutava a cabecinha careca
tentando compreender porque todos eram assim.
Por mais que falasse das belezas e coisas bonitas que ia aprendendo, nenhum dos animais dava importância às suas descobertas e cantigas.

Eles iam crescendo e ficando bem gordinhos,
exceto pelo pequeno pintinho que se mantinha mais magro
e com uma carequinha aparecendo no alto da cabeça,
de tanto levar bicadas.
Como também estava aprendendo a cantar e era bem desafinado, as chacotas dos irmãos o incomodavam e deixavam entristecido.
E, mesmo desafinando subia um dos morros além da cerca para saudar as estrelas e a Lua,
e quando o Sol aparecia lá longe batia as asinhas
e piava de contentamento.

Já era um franguinho bem crescido e todos no galinheiro
o olhavam meio desconfiados de sua magreza.
Com aquela carequinha na cabeça ficava até meio engraçado, mas seus amiguinhos do lado de fora da cerca gostavam muito dele e de seus piados e cantigas.

E, saía a ciscar os jardins e campos que ia conhecendo, conversando com os demais bichinhos, provando daqueles frutinhos deliciosos que a Natureza ofertava, brincando na água, abrindo asas ao vento, sempre sorridente e alegre. Voltava para o galinheiro e dormia sossegado quando os irmãos deixavam, sempre tendo sonhos bonitos e coloridos, que voava e voava pelo mundo cantando músicas de amor
e querendo fazer amizades,
querendo que todos parassem de brigar umas com as outras.

Às vezes percebia que, assim como seus irmãos pintinhos, alguns seres humanos sempre implicavam e brigavam com os outros. Nas suas andanças via muito isso acontecer,
e volta e meia encontrava um desses seres humanos, muito machucado, caído em algum lugar.
Pareciam dormir num sono sem fim, e cantava na esperança de fazer acordar aquela pessoa machucada.
Como isso não acontecia,
se afastava entristecido por saber que certamente
deveria ter brigado muito com alguém.

Dias e dias se passavam e ele crescia e ficava mais grandinho apesar de ser tão desajeitado aos olhos dos animais do galinheiro. E sempre saía por aqui e por ali,
ciscando, ciscando, falando das belezas que aprendia, cantando e fazendo novos amigos, franzino e ciscando, ciscando e amando de seu jeito engraçado e alegre...

Numa noite, ele acordou bem antes do Sol nascer no horizonte e foi lá pra cima do morro cantar com sua vozinha desafinada. Cantava, cantava, cantava e de repente ouviu um bater de muitas asas bem perto dele.
Olhou para cima e viu uns pássaros grandes, bonitos, de asas enormes cantando uma música de melodia linda.
Ficou extasiado...

Eles voavam juntos, num bando de perder de vista em direção a um lugar um pouco mais afastado dali.
E, bateu com mais forças as asinhas pequenas e saiu ora voando baixo, ora correndo rápido, porque queria aprender aquela canção dos pássaros que nunca havia visto.

De repente, viu que eles voavam ao redor de um casebre de madeira perto de um outro morro, e foi em direção deles,
agora chegando devagarinho e cheio de vergonha
por ser tão pequenino em relação a eles.
E, logo foi se sentindo mais à vontade porque viu outros de seus amiguinhos por ali.
Algumas ovelhas e carneiros, borboletas coloridas e abelhas, passarinhos dançando ao som daquela canção.
Era uma alegria imensa enquanto todos se deixavam animados e felizes com aquela música tão maravilhosa.

Olhou para dentro do casebre junto às pedras do morro e viu dois de seus amigos lá dentro, uma vaca e um burrinho novo, olhando embevecidos para um bebê muito lindo deitado entre as palhas no cocho de comida.
E, engraçado, havia duas pessoas com eles com um olhar doce e carinhoso para com todos ali presentes, bem diferentes do dono de seu galinheiro.
Admirou-se deles não enxotarem os animaizinhos dali...

E, pé ante pé, todo tímido, foi se aproximando deles e acocorado na beira do cocho olhou praquele bebê todo enroladinho em panos.
Sentiu seu próprio corpinho tremer de alegria
e o coraçãozinho bater mais forte
quando a criancinha abriu os olhos e sorriu para ele,
todo dengoso...

Aquela grutinha escondida lhe pareceu o lugar mais bonito que havia conhecido, tanta era a alegria que vibrava naquele lugar.

E, perguntou ao burrinho amigo quem era aquele bebê,
que respondeu que era uma criancinha que havia nascido
para amar a todas as criaturas do mundo,
e aqueles pássaros lá fora cantavam de alegria
por ele ter chegado ao mundo.

O pintinho não cabia em si de contentamento.
Olhava para as pessoas ali, para seus amiguinhos animais, e via todas as pessoas do mundo sem medos e brigas.
E, se encheu de vontade e coragem para cantar bem alto sua alegria. Pulou dali e subiu voando até o alto daquela grutinha, querendo juntar sua voz às daqueles pássaros
que cantavam lá no alto.

E, batendo as asas bem abertas, querendo abraçar todos ali presentes, aquele pintinho que ciscava e franciscava,
cantou firme e bonito como que querendo que o mundo inteiro também o ouvisse, para receber a boa notícia do nascimento daquele bebê:

_ Cocoricóóóóóóóóóóóó!... Jesus nasceu! Cocoricó!

E, os animais lá embaixo também se juntaram ao coro, balançando-se de lá pra cá e, as ovelhinhas e a vaca tilintando seus sinos respondiam:

_ Em Belém! Em Belém! Em Belém!...

Os anjos batiam palmas que chispavam uma chuva fininha de gotas iluminadas e,
lá no alto do céu um cometinha colorido O apontava,
para que o mundo inteiro soubesse que o Cristo havia nascido para amar e trazer a Paz
para todas as criaturas de boa-vontade.


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